quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Süddeutsche Zeitung nº 298/2013 (Alemanha) + Tradução

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© TokioHotel-Info

"Foi um trabalho difícil"

Querendo ou não: Tokio Hotel está de volta - e agora para ficar. Os gêmeos idênticos Tom e Bill Kaulitz falam sobre seu "Realschulabschluss", programas de talentos, drogas e AC/DC.

Tem sido tranquilo em torno do Tokio Hotel por um longo tempo. Já faz mais de sete anos que seu single "Durch den Monsun" preencheu a pré- e dura adolescência das garotas com êxtase sem precedentes, enquanto forçava colunistas a fazer análises maravilhosas. Bill Kaulitz, andrógino e com penteados loucos e seu irmão gêmeo Tom, dez minutos mais velho, tornaram-se os garotos nos pôsteres dos quartos das garotas alemãs aos 15 anos e venderam milhões de discos. Nos últimos anos, porém, tem sido calmo em torno dos gêmeos Kaulitz, que se mudaram para Los Angeles. Agora, aos 23 anos, os gêmeos voltam como jurados no programa da RTL, "Deutschland sucht den Superstar" (DSDS). A gravação acontece em Bad Driburg, localizado nos terrenos baldios da Westfália, no interior de um hotel de classe superior com um estacionamento de vários andares. Em frente das janelas da sala de conferência, tem alguns fãs esperando há um bom tempo, pelo menos com 17 ou 18 anos. Em nosso interior, o velho dilema de estrela adolescente junta-se a nós na mesa: Os garotos são muito velhos para serem abraçados, muito jovens para impor respeito. Você não quer puxar a perna deles, nem colocá-los em seu colo.

SZ: Faz um bom tempo que ouvimos do Tokio Hotel pela última vez.
Bill: Eu acho que a pausa pareceu mais longa para o público alemão do que realmente foi. Depois do nosso último álbum fizemos uma grande tour na América do Sul e no Japão e, em seguida, só queríamos viver um pouco.

SZ: O que "apenas viver um pouco" significa para alguém que vem vivendo em um estado de emergência desde os 15 anos?
Bill: Nós passamos muito tempo com a nossa família. E com nossos quatro cães.
Tom: Foi uma grande mudança para nós. Estar em tour com a banda, nós temos uma grande equipe e posso chamá-los para tudo que preciso a qualquer momento. Agora tenho que cuidar das coisas por conta própria e isso inclui coisas que eu nunca tive de lidar antes. Eu passei por algumas situações difíceis, mas eu não gostaria que fosse de outra forma.

SZ: Por exemplo?
Tom: Não sei, por exemplo, fui tirar a carteira de motorista da Califórnia, em Los Angeles. Eu pensei comigo mesmo: Huh, você tem que esperar em alguma merda de fila por tanto tempo? Você só fica ali um dia inteiro para dar a sua foto para eles?

SZ: Los Angeles é a sua moradia permanente agora?
Bill: Nós passamos muito tempo nos EUA porque temos trabalhado muito em nosso novo álbum nos últimos dois anos e também para ter um pouco de privacidade. Mas nós também temos uma casa na Alemanha e algumas de nossas sessões de gravação também acontecem aqui. Os outros dois caras ainda moram na Alemanha.

Além de Bill e Tom, Tokio Hotel é composto por outros dois - publicamente negligenciados - membros que se encaixam com eles como as folhas em torno das flores e cujos nomes e instrumentos (baixista Georg e baterista Gustav) são muitas vezes colocados entre parênteses quando o Tokio Hotel está coberto pela imprensa. Enquanto os gêmeos estavam nos EUA, aqueles dois tiveram de desmentir os rumores sobre o fim da banda.

SZ: Depois da longa pausa, vocês sentem a pressão ainda mais do que antes?
Bill: O nosso segundo álbum foi, provavelmente, o pior. Nós começamos com um single nº 1, seguido por um álbum nº 1. Quando isso acabou, estávamos acostumados com o sucesso permanente. Tudo depois teve que ser pior. A imprensa estava apenas esperando que nós falhássemos em ser nº 1 de novo. E para começar a escrever que, agora, tudo acabou.

SZ: A maioria de seus fãs são adultos agora e ouvem música diferente. Isso não é um problema?
Bill: Não há nada que possamos fazer sobre isso. Mas nós não sentamos no estúdio pensando que não há mais ninguém para agradar. Isso deve ser apreciado por garotas de 15 anos ou por uma mulher de 46?
Tom: Eu assisti a um show do AC/DC na TV ontem. Olhe para o público lá, é totalmente misturado. Tem aqueles que já eram fãs quando Bon Scott ainda estava cantando e ao lado deles tem alguém que acabou de descobri-los ouvindo a trilha sonora de "Homem de Ferro". É assim que eu gostaria que fosse.

SZ: Mas vocês não são o AC/DC. Eles trabalharam durante várias décadas para chegar ao topo, vocês chegaram lá da noite pro dia.
Tom: Claro, mas isso aconteceu com outras bandas que administraram para serem bem sucedidas também. Depeche Mode foi chamado de boyband no início, não era nada legal para meninos ouvirem. Hoje quase ninguém sequer se lembra disso.

Durante seu auge entre 2005 e 2010, o Tokio Hotel foi tão amado e adorado por seus fãs como foi ridicularizado e odiado pelo resto do país. Bill Kaulitz ficou em 1º lugar no programa "100 alemães mais irritantes" do Pro7 e FHM repetidamente o listou em seu ranking de "Mulheres nada atraentes". Ao mesmo tempo, o cantor teve sessões de fotos com Karl Lagerfeld e a banda foi perseguida por fãs obsessivos. Ninguém podia escapar da banda e todos os alemães tinham uma reação automática quando o nome deles era mencionado, e poderia ser qualquer coisa, mas nunca indiferente. Em retrospectiva, este pode ter sido o seu sucesso mais duradouro: Pop para polarizar o público.

SZ: Como vocês se sentem sobre o Tokio Hotel ser mais reconhecido como uma linha de demarcação de gostos do que como uma banda séria?
Bill: Você sabe, você realmente não pode controlar essas coisas. Fizeram uma pesquisa sobre o último álbum. Algumas pessoas da TV correram ao redor da cidade com fones de ouvido e tocaram nossas músicas para pedestres. Alguns disseram "Essa música é muito legal" no início, mas quando disseram que eles tinham escutado Tokio Hotel, eles mudaram suas opiniões imediatamente e disseram que não gostaram da música.

SZ: Vocês sempre foram polarizados desde o seu primeiro sucesso, desde sua juventude. Às vezes vocês gostariam de já serem adultos antes de experimentar tudo isso?
Bill: Por um lado eu acho que, se pudesse voltar a minha vida, eu faria tudo diferente e talvez esperaria mais alguns anos. Por outro lado, não importa quão ruim foi meu dia, não importa que há outro cara com uma câmera, não importa se tem algumas coisas particulares no jornal de novo: Eu sou grato por ser capaz de fazer tudo o que faço. Teria sido aterrorizante fazer outra coisa. Eu nasci para isso.

Eu acredito nele. Ambos parecem ser mais abertos e despreocupados do que se imagina, considerando sua relação de amor/ódio com o público. Eles também parecem menos infantis do que sua gíria pode sugerir. Tom, com seus dreads ainda parece um menino. Com Bill, claro, é diferente: Anéis, barba de três dias em um rosto de porcelana, uma torre de cabelos brancos acima de seu corte inferior e uma tatuagem esquelética em sua mão esquerda. No ano que vem, ele vai ser o astro excêntrico, mas consciente do estilo ou mesmo como um superstar com estilo de formação do futuro; ou ele será o louco tatuado, com piercing e nada saudável de antes. Como ele vai ser visto só será decidido pelo sucesso de seu quarto álbum, que está programado para lançamento em 2013. Mas pode ter certeza, estas são as únicas opções, não haverá meio termo.

SZ: Assumindo que seu retorno falhe, qual é o plano B?
Tom: Em todo o caso, eu não consigo imaginar outras pessoas me dizendo o que fazer e para quem. Aposentar-se por alguns anos, escrever canções para outros artistas, trabalhar nos fundos; eu poderia imaginar isso, mas quase nada mais.
Bill: Você está certo, eu também não iria sobreviver trabalhando em qualquer lugar. Eu sempre tive esse problema com superiores e autoridade, sempre odiei isso.

SZ: Vocês ainda têm contato com pessoas do passado?
Bill: Nós ainda conhecemos alguns velhos amigos, um deles ainda é o nosso melhor amigo.
Tom: Nós falamos sobre talvez aparecer em uma reunião da escola. Eu provavelmente iria.
Bill: Não sei. Aquele povo realmente nunca teve grandes sonhos. Eles falavam mais sobre assumir as empresas dos pais ou se tornar um veterinário ou um fazendeiro.

SZ: Se vocês não conseguem nem imaginar levando uma vida "normal", então por que terminaram seu "Realschulabschluss" [N/A: Graduação básica do Ensino Médio] há 3 anos?
Tom: Às vezes eu me pergunto a mesma coisa.
Bill: Nós fizemos isso por causa da nossa mãe. Estávamos no 10º ano do ginásio quando saímos da escola por causa da banda, então realmente já tínhamos aprendido tudo que precisávamos para o "Realschulabschluss". Só fizemos para acabar logo com isso. Você realmente não pode fazer nada com isso de qualquer forma. Você precisaria de um "Abitur" [N/A: Prova de qualificação para a faculdade] para isso.

SZ: Para o quê, exatamente?
Bill: Às vezes, eu brinco com a ideia de ter aulas de design de moda. Só por diversão.

SZ: Ser uma celebridade no campus. Você tem medo sobre o fato de que a vida universitária normal seria impossível para você?
Bill: É verdade, eu realmente não tenho a liberdade de sair e passear no parque. Mas artisticamente falando, eu posso fazer o que quero. Esse é o fato mais importante para mim, pelo qual sou mais grato. Mesmo aos 15 anos, nós já tínhamos começado a lutar por isso. Hoje, eu sou meu próprio chefe. Até a gravadora não pode nos dizer muita coisa. Mas é claro que tem coisas na vida que te deixam para baixo e cada um de nós se sente possivelmente quebrado, de alguma forma. Eu, eu sou um pouco paranoico às vezes.

SZ: Paranoico?
Tom: Quando começamos, não tínhamos ideia de que tudo que dizemos pode ser usado contra nós pela imprensa de forma brutal. Ficamos realmente chocados depois de ler as primeiras manchetes quando tínhamos 15 anos.

Mais do que ninguém, o jornal alemão "BILD-Zeitung" acompanhou a carreira da banda intensamente. Mesmo durante os últimos 2 anos mais tranquilos, os irmãos Kaulitz estavam na manchete com alguma regularidade, por exemplo, considerando seu "estilo de festa pesada": "Drogas pesadas: desconhecido! Álcool: sempre!"; considerando a sua independência financeira: "Tokio Hotel supostos jurados do "The Voice of Germany" por um salário de 1.2 milhões de euros - Recusaram a oferta"; considerando o pai dos gêmeos, que reclamou sobre a "fama e dinheiro" que distanciou a família. Eles não gostam de falar sobre ele.

SZ: Vocês se acostumaram com essas manchetes?
Bill: Nós estamos bastante confortáveis agora. Elas já cobriram tudo, drogas, anorexia, depressão. Agora estou certo de que a maioria das pessoas saberá por si só, que a maioria é besteira.
Tom: Eu só sinto muito pela minha avó. Ela, às vezes, ainda me pergunta se uma coisa é verdade ou não.

SZ: O seu novo trabalho como jurados não vai reduzir a cobertura da imprensa.
Bill: Em algum momento você tem que aceitar isso. Nós nem sequer comentamos mais a maioria das manchetes, porque não queremos lidar com elas. Não mudaria nada mesmo.

SZ: Mas vocês não poderiam ter isso (fama) sem as manchetes, poderiam?
Tom: Essa é a visão de fora, não é: Agora eles precisam promover o novo álbum. Mas nós não vendemos mais um álbum só porque alguém escreveu que o Bill era anoréxico. Algumas revistas francesas até escreveram que ele tinha se matado.
Bill: Verdade, eu lembro disso.
Tom: Por dois dias consecutivos, as pessoas da França ligaram porque eles acharam que o Bill tinha pulado da janela.

Eles só não iriam mais falar com a imprensa, Bill me disse durante a nossa conversa. Mas, ainda assim, enquanto a gravação do DSDS continua, várias entrevistas, histórias e sessões de fotos serão publicadas pela BILD, Bunte e outras. Quando eu pedi ao management deles uma declaração mais tarde, eles responderam: "Já que a imprensa vai cobrir o DSDS e o envolvimento de Bill & Tom com ou sem nossa cooperação, nós fornecemos algumas revistas escolhidas com declarações de vez em quando. Dessa forma, os irmãos estão tentando encontrar um equilíbrio e adicionar alguma base sólida para as histórias deles". Claramente dizendo: Se temos de lidar com besteira, nós, pelo menos, queremos controlar isso. As coisas que você faz pela avó.

SZ: Vocês foram candidatos de um programa de talentos uma vez.
Bill: Só eu, há dez anos. A diferença entre nós e outros candidatos de programas de talentos é que começamos a fazer música quando tínhamos sete anos de idade. Foi tudo trabalho duro. Agora, eu vejo um monte de pessoas que só querem estar na TV, independentemente de seu talento.
Tom: Especialmente nos EUA, quase toda diferença entre ser famoso por causa do que você pode fazer e ser famoso por ser estúpido já não existe.

SZ: Vocês acham que é diferente aqui?
Tom: Felizmente, sempre fomos capazes de ganhar a vida fazendo música. Enquanto pudermos fazer isso, eu posso viver com a merda da imprensa.



Tradução original: BTKTwinsArchive
Tradução para Português BR por: Naah - LdSTH

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